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Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Zema e os paradoxos da política

Zema quer se firmar no país não como um dos governadores de oposição, mas, antes, como a principal oposição. Iniciou o ano caçando motivos

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Ainda na expectativa se será o vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou se sairá em voo solo na cabeça da chapa para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026, o governador Romeu Zema (Novo) definiu o método para lutar contra as altas taxas de desconhecimento no país: confrontar o presidente Lula e o seu entorno, dia sim, outro também. Busca visibilidade para além das montanhas. Zema quer se firmar no país não como um dos governadores de oposição, mas antes, como a principal oposição. Iniciou o ano caçando motivos.

 

Sem expectativa de poder, não há negócio

 

Neste primeiro mês de 2025 alinhavou dois grandes momentos de embate. O primeiro, em 14 de janeiro, por ocasião da sanção presidencial do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) – uma construção de Tadeu Martins Leite (MDB), de deputados, técnicos da Assembleia Legislativa e de Rodrigo Pacheco (PSD) com o apoio e aval de Lula. O Propag mostrou-se um caminho indiscutivelmente melhor do que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) defendido inicialmente por Zema como a única alternativa ao endividamento estrutural de Minas Gerais. Nas palavras de Tadeuzinho: “Em 30 anos, o RRF custaria aos cofres públicos do estado R$ 300 bilhões a mais que o Propag só em pagamento de juros”.

 

Lula vetou dispositivos incluídos no projeto que não foram previamente acordados, porque são medidas com impacto primário nas contas públicas. Zema, que pouco contribuiu na construção e articulação do Propag, imediatamente mirou a árvore, ignorou a floresta e abriu fogo em críticas ao governo federal. Conseguiu ser citado e polarizar com o presidente, com Fernando Haddad e outros governistas. Ele, que protagonismo algum teve na construção do Propag e, antes de recuar, chegou a dizer que não faria adesão se os vetos não caírem, rapidamente abraçou a cruzada, em chamado a outros governadores de oposição para derrotar o presidente no Congresso.

 

O segundo grande momento da oposição de Zema a Lula neste ano foi em torno de uma demanda histórica de Minas: em 22 de janeiro, o governador mineiro não compareceu à solenidade em que Lula assinou o contrato de concessão do trecho da BR-381, de BH a Governador Valadares, conhecido como Rodovia da Morte. É uma demanda histórica. Além de não ir, Zema ainda esbravejou: “O PT prometeu essa mesma obra nos 188 meses de governo, mas não entregou”. A crítica está parcialmente correta: faltou estendê-la ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tampouco fez o prometido. Fato é que se até aqui a obra não saiu em governo passado algum, desta vez tudo indica que irá: o governo federal assumiu a execução do trecho mais complexo, de Belo Horizonte a Caeté, que envolve desapropriações e afastava interessados em leilões. A ausência de Zema na assinatura da concessão em Brasília foi mencionada e criticada por Lula e ministros. Sobram farpas e narrativas críticas.

 

 

Zema tem conseguido alguma visibilidade nacional nesses embates com o presidente, que, ao aceitar as provocações, também o reforça como o seu adversário em 2026. Assim, Lula faz o que Bolsonaro não fez, não faz nem fará. Mas, se com a estratégia, Zema, por um lado, procura se firmar junto ao eleitorado radical de direita, por outro, afasta o eleitor moderado, de centro, mais avesso a histrionismos.

 

Além disso, por paradoxal que pareça, o verdadeiro empecilho a Zema chama-se Jair Bolsonaro. Determinado a manter a hegemonia no campo da extrema direita e direita radical, o ex-presidente deixará esse campo político em suspense até a última hora, com a promessa de que reverterá sua inelegibilidade. É baixa a probabilidade que tal ocorra. Em não acontecendo, as escolhas de Bolsonaro não recairão sobre Zema nem sobre qualquer outro governador que possa lhe fazer sombra. Mas, antes, vão se afunilar para um dos membros de sua numerosa família que ganha a vida na política. Sobre os paradoxos da vida, alguns diriam: o amor que me faz sofrer é o mesmo que me faz feliz. Já na política...


Plano de obras


O ministro dos Transportes Renan Filho (MDB-AL) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), estarão nesta quinta-feira à tarde em Belo Oriente, no Vale do Aço, para a apresentação do plano dos primeiros 100 dias de intervenções no trecho Belo Horizonte-Governador Valadares da BR-381. Estarão acompanhados dos diretores Rafael Vitale e Guilherme Theo Sampaio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e de representantes da concessionária Nova 381, que vai administrar o trecho pelos próximos 30 anos. O evento marcará o início das obras de melhoria da estrada, que nas últimas décadas ficou conhecida como “Rodovia da Morte”. O governador Romeu Zema ainda não foi confirmou presença.

 


Com Damião

 

Antes de seguir, para Belo Oriente, Renan Filho irá se reunir na Prefeitura de Belo Horizonte, com Álvaro Damião (União), prefeito em exercício. Na pauta o trecho da BR-381, de Belo Horizonte a Caeté, que será executado pelo governo federal. Para tratar da municipalização do Anel Rodoviário, prometida por Lula ao prefeito licenciado Fuad Noman (PSD), Álvaro Damião estará com a direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em acordo com o governo federal, o Dnit fará recapeamento e obras de sinalização vertical e horizontal antes de repassar a rodovia ao município. É projeto de Fuad Noman a transformação do Anel Rodoviário num eixo de desenvolvimento, com a ocupação de indústrias e conjuntos habitacionais nas áreas de domínio desocupadas.

 

 

Na sobremesa

 

O governador Romeu Zema recebeu, no BDMG, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa para o tradicional almoço de início de legislatura. Zema disse aos parlamentares que precisa cultivar a boa convivência para resolver os problemas de Minas como o Propag. E acrescentou: “Isso é para que, depois de mim, quem quiser ser governador na próxima eleição, não passe o aperto que eu passei”. Entre os convidados, um lançou: “O próximo governador vai ser Tadeuzinho”. Risos. Cardápio que segue, com mousse de morango e frutas da estação.

 

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Na liderança

 

O deputado federal Gilberto Abramo (Republicanos-MG) é o novo líder da bancada do Republicanos na Câmara dos Deputados. Em reunião na sede do partido, a Executiva deliberou a indicação. Abramo substitui Hugo Motta (Republicanos-PB), agora presidente da Câmara dos Deputados. Motta participou do encontro. Abramo discursou considerando que seguirá a conduta de Marcos Pereira, presidente da legenda, de valorização do diálogo. Declarou que buscará o melhor caminho para a bancada, conversando e respeitando as posições individuais.

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