Bebel Soares
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PADECENDO

Casamento

Antigamente, as mulheres se submetiam aos seus maridos, aceitavam uma hierarquia no casamento e nas relações familiares

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“Casamentos longos são, na verdade, muitos casamentos encadeados, muitas vezes com rupturas e ‘re-escolhas’ silenciosas”, é o que diz o psicanalista Christian Dunker em seu livro “A arte de amar: uma anatomia dos afetos, emoções e sentimentos”. Anotei essa frase e, de tempos em tempos, recorro a ela na sessão de análise de alguma paciente. Muitas delas estão casadas há mais de 10 anos.


Hoje, muitas mulheres vêm repensando o casamento, optando por não se casar, rompendo com padrões impostos, rompendo com a crença de que mulher precisa se casar e ter filhos para ser completa. Há várias razões pelas quais algumas mulheres optam por não se casar, entre elas a busca por independência financeira e pessoal, o desejo por relacionamentos mais igualitários, o ceticismo em relação ao modelo tradicional de casamento, e um foco maior na realização individual por meio da carreira e de outros projetos de vida. As pressões sociais para casar e a desilusão com os papéis tradicionais também são fatores importantes que levam as mulheres a repensar essa decisão. Motivos similares levam mulheres a querer se separar.


As mulheres estão mudando, estão querendo mais do que serem esposas e mães, até porque o papel de esposa e o papel de mãe vêm com o ônus do papel de dona de casa e de sobrecarga. As mulheres saíram para trabalhar, mas os homens não assumiram com elas a divisão do trabalho de cuidado. As mulheres se cansaram de maternar o próprio marido.


Se antigamente o casamento era visto como uma forma de segurança econômica para as mulheres, hoje isso vem perdendo o sentido, porque elas estão ocupando o mercado de trabalho e conquistando autonomia financeira. Casamento não é mais uma necessidade e sim uma escolha - escolha de se casar ou a escolha de permanecer casada.


“Casamentos longos são, na verdade, muitos casamentos encadeados, muitas vezes com rupturas e ‘re-escolhas’ silenciosas” porque o casal e as questões do relacionamento vão mudando. Outros elementos vão surgindo. A escolha de uma vida a dois muda, quando o casal escolhe ter filhos. O terceiro, o quarto, o quinto elementos mudam a dinâmica do casal: as relações vão ficando mais complexas à medida que os filhos crescem ou que as divergências sobre como criar os filhos aparecem.

As mulheres estão mudando. O feminismo colocou luz sobre a desigualdade entre os gêneros nas relações. Casadas ou não, mulheres buscam relações mais equilibradas e mais justas, de forma que elas não percam sua identidade nem sejam submissas aos seus parceiros. Os homens não querem sair da posição confortável que sempre ocuparam.


Outro dia, um desembargador do TJ/PA disse, sem a menor parcimônia, que “a mãe é a empregada doméstica mais barata que o pai vai encontrar”. Embora seja uma fala absurda que ilustra o machismo do nosso Judiciário, o que ele disse é o que grande parte dos homens pensa. Basta perguntar para qualquer homem como seria a mulher ideal para se casar, que ele descreveria uma empregada com os atributos físicos de uma miss. E muitas mulheres replicam esse pensamento machista, acreditando que homem precisa de mulher para cuidar dele, lavar a roupa, fazer a comida etc. Ou seja, o homem não precisa de uma esposa, precisa de uma mulher para substituir a sua mãe.


Antigamente, as mulheres se submetiam aos seus maridos, aceitavam uma hierarquia no casamento e nas relações familiares, como escreveu o professor Hugo Monteiro Ferreira em seu novo livro “Agora meu chão são as nuvens”.


“Num modelo rígido de família, a hierarquia se materializa similar a uma pirâmide estruturada assim: o pai está no ápice, a mãe vem mais abaixo, os filhos meninos no meio e as filhas meninas na base. A ordem é dada de cima para baixo; logo, as meninas são educadas para obedecerem as ordens de quem ocupa lugares acima delas.”


Nós não queremos mais esse modelo rígido de família, não queremos ser tratadas como cidadãs de segunda classe. Os homens reclamam disso, gostam de culpar o feminismo. O problema é que as mulheres estão mudando e os homens não querem acompanhá-las. Para que os casamentos funcionem, é preciso fazer a escolha de evoluir e repensar as relações. É possível fazer funcionar, mas os dois precisam querer e fazer sua parte.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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