Bebel Soares
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PADECENDO

Agora meu chão são as nuvens

É um livro para ficar na cabeceira, para ser lido, relido, indicado, estudado e amplamente debatido

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Hugo Monteiro Ferreira é uma pessoa de sensibilidade ímpar, voz calma e um jeito acolhedor de quem sabe ouvir para além das palavras. Eu o conheci em 2013, quando buscava alguém para falar para pais e mães sobre a prevenção ao abuso sexual infantil. Naquela época, ele já era referência tanto em relação a esse tema, quanto em relações familiares. 

Há muitos anos, o professor Hugo Monteiro Ferreira estuda e fala de assuntos muito atuais e urgentes, como violência contra crianças e adolescentes, violência intrafamiliar, frouxidão dos laços parentais. Agora, ele está lançando o livro “Agora meu chão são as nuvens - As famílias contemporâneas e os desafios na educação de crianças e adolescentes”. A obra é para ler, reler e não esquecer mais. Nele, Hugo mostra a realidade de grande parte das famílias, as violências que marcam vidas para sempre. A casa que oprime quando deveria acolher. A casa que violenta quando deveria proteger.

Abaixo a sinopse:

“‘Agora o meu chão são as nuvens’ é um livro que toca fundo na experiência de ser família em um tempo de incertezas. Com olhar sensível e de modo assertivo, o professor Hugo Monteiro Ferreira nos conduz por temas urgentes — a violência intrafamiliar, as fragilidades dos laços parentais e os perigos da influência digital na educação de crianças e adolescentes — para mostrar que muitas casas que deveriam proteger, negligenciam, oprimem e adoecem. Entre acontecimentos de repercussão nacional e depoimentos colhidos em suas pesquisas, o autor revela a necessidade de transformar a ilusão do chão rígido das certezas — disciplina, inflexibilidade e prescrição de comportamentos — em um chão de nuvens — impermanência, imprevisibilidade — através do afeto, do diálogo, da equidade, da criatividade e da coletividade.”

Posso dizer que foi o melhor livro que li sobre o tema família, porque ele aborda todas as questões mais urgentes e atuais. Temas que estão em alta agora, após o famoso vídeo do influencer Felca sobre adultização, mas que já vem sendo trabalhados e discutidos exaustivamente por pessoas como Hugo, que são muito relevantes, porém, tem muito menos seguidores. O autor diz uma grande verdade: “Os pais não cuidaram das emoções dos filhos, porque as emoções deles também não foram cuidadas”. Essa falta de cuidado com as próprias emoções têm consequências sérias, muitas vezes trágicas, que afetam nossos filhos e se amplificam na sociedade. 

Vivemos em uma sociedade adoecida, e as famílias estão pedindo socorro. Para curar nossas feridas e não nos ferirmos uns aos outros, precisamos de casas bondosas, que nos fazem querer estar nelas. Entre histórias reais que foram notícia, como os casos do menino Bernardo, da Isabela Nardoni, do pequeno Miguel, e uma série de depoimentos de pessoas que ele entrevistou, o autor vai costurando sua narrativa e mostrando como e por que precisamos trocar o chão firme das casas que oprimem pelas nuvens.

Esse trecho me marcou bastante, porque ele retrata um modelo familiar bastante naturalizado na nossa sociedade, uma sociedade na qual as mulheres são consideradas cidadãs de segunda classe:

“Num modelo rígido de família, a hierarquia se materializa similar a uma pirâmide estruturada assim: o pai está no ápice, a mãe vem mais abaixo; os filhos meninos no meio e as filhas meninas na base. A ordem é dada de cima para baixo, logo as meninas são educadas para obedecerem às ordens de quem ocupa lugares acima delas. Não questionar a hierarquia é uma das condições para que a harmonia reine dentro de casa. Tudo funciona bem, quando cada membro da família sabe o seu lugar, sabe as suas atribuições, cumpre as suas funções e segue, sem causar sobressaltos. Em modelos assim, o pai é o mandatário central e dele emergem as ordens que deverão ser cumpridas.”

É um livro para ficar na cabeceira, para ser lido, relido, indicado, estudado e amplamente debatido. Um livro para quem tem família, para quem trabalha com famílias, para quem tem feridas abertas que gostaria de curar. Segundo o autor, “agora o meu chão são as nuvens é meu testemunho de que as famílias precisam cuidar e serem cuidadas em prol da melhoria de nossas vidas”. 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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