Bebel Soares
Bebel Soares
PADECENDO

Belo Adormecido

 Lá, ele iria aprender a se portar como homem, adotando atitudes de macho "alpha" para se tornar um "homem de alto valor"

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O princezinho nasceu e foi batizado, porém, uma bruxa, magoado por não ter sido convidado para o evento, amaldiçoou a criança dizendo que o príncipe Auro jamais seria o homem que seu pai queria que ele se tornasse. A revelação viria quando ele completasse 16 anos. O pai preferia ver o filho morto; a mãe implorou à Malévola que não deixasse seu filho morrer. Então, Malévola disse que o deixaria em um sono profundo.
Buscando evitar que a maldição se concretizasse, o rei enviou Auro para viver bem afastado do reino, longe dos olhos de Malévola. Auro foi criado na Comunidade Lendária dos Duendes Masculinistas, que prometia o resgate da masculinidade. Lá, ele iria aprender a se portar como homem, adotando atitudes de macho “alpha” para se tornar um “homem de alto valor”. O objetivo era que Auro encontrasse seu propósito, desenvolvesse um caráter forte e se tornasse um líder exemplar na sua família e no seu reino.
Auro era um menino sensível, gostava dos animais e da natureza. Passava horas contemplando os pássaros e gostava de meditar perto da cachoeira, atividades que não eram permitidas. Quando o viam fazendo algo que consideravam coisa de menina, ele apanhava. Quando seu pai o visitava e ficava sabendo de algum mal feito dele, apanhava do pai. O argumento era sempre o mesmo: apanha para aprender a ser homem.
Embora não soubessem, Malévola estava sempre presente, sempre encontrava uma maneira de conversar e acolher o menino. Ela tinha por ele um amor maternal e só desejava que ele pudesse ser ele mesmo. Ela sempre conseguia uma maneira de estar com ele longe dos olhos dos duendes que vestiam laranja.
Na véspera do seu aniversário de 16 anos, Auro estava preparado para encontrar uma mulher “de alto valor”, que atendesse aos padrões de beleza e expectativas em relação à maternidade e às tarefas domésticas, com quem pudesse se casar e produzir herdeiros. Ele estava confuso, queria atender às expectativas do pai, se apegava àqueles laços violentos, era a violência que o prendia àquela família. 
A mãe sofria vendo aquilo tudo, mas não podia falar. Seu papel era ter filhos, cuidar da rotina de eventos sociais do palácio real e se manter submissa ao rei, apesar de toda a influência que Malévola exercia sobre ele, tendo-o ensinado, durante todos aqueles anos, sobre empatia, sobre não reprimir e aprender a nomear seus sentimentos. 

Apesar de ter com ela uma relação amorosa e empática, ele não conseguia dizer não ao seu pai. Estava decidido a aceitar a esposa escolhida para ele, mesmo sem conhecê-la e seguir o caminho do pai, mantendo o mesmo punho de ferro em seu reinado.

Malévola não suportava aquela ideia, não queria ver seu menino se transformando em um homem. Um “macholento”, como ela costumava dizer. Ela acreditava que poderia desfazer a maldição, mas desistiu e deixou que as coisas corressem conforme havia profetizado. O garoto tinha sido muito influenciado pelos grupos de adolescentes dos quais havia se aproximado nos jogos de guerra. 
Ele havia se afastado dela, acreditava que ela era interesseira, manipuladora e que ela o estava impedindo de ser o homem que seu pai queria que ele fosse. Aprendeu a reprimir suas emoções e só sentia raiva, principalmente raiva de tudo o que era considerado feminino. Se sentia abandonado e negligenciado pelos próprios pais e precisava ser forte para ocupar o trono que um dia seria seu.
No seu aniversário de 16 anos, Auro acabou espetando seu dedo numa agulha de um tear velho quando, num acesso de fúria, pegou-o para arremessá-lo contra a parede. Foi assim que ele caiu em um sono profundo, deixando seu pai e todo o reino consternados.
A mãe sentiu um certo alívio, não gostava de ver o filho se tornando uma projeção do pai. Sabia que ele não era assim e, secretamente, se aproximou de Malévola pedindo perdão por tudo o que deixara fazerem contra ela, e agradecendo por todo o cuidado que ela teve com seu filho durante todos aqueles anos. 
As duas se uniram para mexer nas estruturas do reino e mudar o destino do princezo. Quando as coisas começaram a seguir para o caminho da equidade entre homens e mulheres, Auro despertou, tomou a Pink Pill que anulava os efeitos do aprendizado misógino que havia recebido. Foi assim que ele pôde encontrar o amor e ser feliz para sempre.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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