
A sociedade que adultiza as crianças
Enquanto famílias tentam lidar sozinhas com os desafios do mundo digital, as plataformas seguem sem regras
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O termo adultização está em alta desde que Felca postou um vídeo com esse título, denunciando a exposição de crianças e adolescentes nas mídias sociais. “Adultização ou adultificação" refere-se ao processo ao qual crianças e adolescentes são expostos a comportamentos, responsabilidades e expectativas típicas de adultos, muitas vezes de forma inadequada para sua idade. Isso pode incluir assumir papéis de cuidado em casa, lidar com problemas financeiros ou ser exposto a conteúdos e imagens inadequadas para sua faixa etária, como usar maquiagem, roupas e acessórios que imitam o visual de adultos, como saltos altos ou roupas sensuais.”
Hytalo Santos foi preso, seu conteúdo saiu do ar, mas ele não é o único desquerido que produz e compartilha conteúdo que adultiza e sexualiza crianças com o objetivo de gerar engajamento e ganhar dinheiro. Existem milhares de perfis que exploram crianças, inclusive perfis de pais que deveriam estar protegendo seus filhos.
Crianças e adolescentes estão cada vez mais conectados, mas a internet não é um lugar seguro. Enquanto famílias tentam lidar sozinhas com os desafios do mundo digital, as plataformas seguem sem regras - e lucrando muito com a exposição de menores. O PL 2628/22 propõe medidas importantes para mudar esse cenário e garantir mais proteção para quem é mais vulnerável.
Mais de 70% da violência sexual contra crianças acontece dentro de casa, envolvendo familiares e amigos íntimos da família. A maior parte das crianças que sofre abusos sexuais não tem noção do que está acontecendo. Com a adultização acontece o mesmo, as crianças não sabem que aquilo não é saudável. Elas fazem para agradar aos adultos que as cercam, e são exploradas por quem deveria defendê-las. Elas são expostas nas redes sociais porque tem gente que assiste, aplaude e até paga por isso. Nosso papel, como pais e educadores, é criar mecanismos para que as crianças sejam protegidas.
Se Hytalo Santos postava todo aquele conteúdo hiperssexualizando adolescentes nas redes sociais abertas, me pergunto se não havia conteúdo ainda mais pesado sendo divulgado em lugares mais sombrios da internet. Aqui no Brasil há muitos criadores de conteúdo que expõem seus filhos, e as crianças não têm idade para consentir. Existem pais e mães que vendem esse conteúdo, que enviam fotos e vídeos das crianças em troca de dinheiro, que fazem disso um modo de vida. Vide a série documental: "Má influência: o lado sombrio dos influencers infantis", que inclusive já recomendei.
Aqui está o resumo de um processo contra um pai que foi preso preventivamente devido à gravidade das provas contra ele:
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“O processo em questão é um Habeas Corpus Criminal envolvendo B.M.S.C., que é o paciente, e o juiz da Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de São Bernardo do Campo, que é o impetrado. O caso está sob segredo de justiça e trata de acusações de crimes contra a dignidade sexual, especificamente estupro de vulnerável. B. é acusado de crimes graves, incluindo estupro contra seus próprios filhos, e a situação é complicada por disputas familiares em andamento, como ações de divórcio e guarda, que ele alega serem parte de uma conspiração contra ele.”
Esperamos que seja aprovado o PL 2628/22, para proteger as crianças no ambiente virtual e reduzir o risco de abuso sexual intanfil que, como foi exposto pelo Felca, mas que eu também venho falando há mais de uma década, acontece não só dentro de casa, mas também no ambiente digital . É fundamental haver responsabilização das plataformas pelo conteúdo que expõe crianças. O PL 2628/22 não tem qualquer restrição à liberdade de expressão e os políticos realmente comprometidos com a proteção de crianças e adolescentes apoiam sua aprovação urgente.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.