Bebel Soares
Bebel Soares
PADECENDO

Precisamos falar sobre educação sexual

Não saber o que é sexo, nem como engravidar, não evita que façam sexo e engravidem, pelo contrário, facilita com que passem por abusos e violências sexuais

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Relação sexual com menor de 14 anos, mesmo que haja consentimento da vítima, é crime de estupro de vulnerável. Também configura crime, o relacionamento entre adolescente (maior de 14 anos e menor de 18 anos) e adulto que oferece vantagens econômicas em troca de relações sexuais com a/o menor. No entanto, esses crimes ainda são socialmente naturalizados, especialmente quando se trata de vitimas do sexo feminino. Essa naturalização é fruto da cultura e permanece devido à ignorância e a falta de acesso à educação sexual.

 


Nesse mês de julho, em Betim, uma menina de 12 anos morreu em decorrência de complicações gestacionais, a gravidez só foi descoberta quando ela já estava com 32 semanas. Ela foi submetida a uma cesariana de emergência devido à gravidade do seu quadro clínico e morreu. O bebê está bem. O aborto legal também é previsto por lei para casos de estupro, mas nem sequer pode ser cogitado, talvez nem a menina soubesse da própria gravidez. Supostamente o pai desse bebê é um homem de 22 anos.


Ainda neste mesmo mês, outra menina de 12 anos, descobriu que está grávida após dar entrada na UPA, acompanhada da mãe, sentindo dores abdominais. Ela está com aproximadamente 1 mês de gestação, e negou ter mantido relações sexuais, mesmo afirmando que se envolveu com um rapaz e chegou a matar aula para encontrá-lo. A mãe da menina não sabia de nada, pois a filha nunca havia comentado sobre o assunto. Como ela ainda está na fase inicial da gestação e já iniciou o acompanhamento médico, ela ainda pode fazer um aborto e evitar os problemas gestacionais que levaram a outra garota à morte. A gravidez precoce, além dos riscos graves à saúde física da gestante, cujo corpo ainda não está preparado para gestar, também pode causar graves riscos à saúde emocional, além de ser uma das causas de evasão escolar de meninas.


 

Ambos os casos servem para ilustrar questões importantes, a primeira delas é a educação sexual, que deve ter início já na infância como forma de prevenir o abuso sexual de crianças e adolescentes. A educação sexual de crianças não tem nada a ver com ensinar a fazer sexo, trata-se de falar sobre o corpo, nomear as partes íntimas, não com apelidos, mas com os nomes: vagina, vulva, pênis, anus. Explicar que essas partes não devem ser expostas, nem devem ser tocadas por adultos, exceto a mamãe, ou um médico, ou um cuidador que precise trocar uma fralda, ou dar um banho nas crianças menores. À medida que eles vão crescendo, podemos ir explicando melhor sobre o corpo, sobre consentimento, sobre as mudanças que ocorrem na puberdade, até chegar à relação sexual, métodos contraceptivos, infecções sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, etc.


A segunda questão é a de que a educação sexual, em casa e na escola, protege. Adolescentes que têm conhecimento iniciam a vida sexual mais tarde, além disso estabelecem uma relação de confiança com os adultos responsáveis e contam suas experiências. Criança e adolescente que tem medo de falar sobre sexualidade com suas mães e/ou seus pais, tendem a mentir mais e passar por situações mais traumáticas e abusivas. Não saber o que é sexo, nem como engravidar, não evita que façam sexo e engravidem, pelo contrário, facilita com que passem por abusos e violências sexuais sem que tenham conhecimento de que isso é abuso. Que façam sexo sem saber que sexo pode resultar em gravidez ou em alguma doença.


No Brasil ocorrem, em média, 180 estupros por dia, ou seja, 7 pessoas são violentadas por hora. Mais da metade das vítimas são do sexo feminino e têm até 13 anos. A falta de acesso à educação sexual protege abusadores e coloca crianças e adolescentes em risco. Tenhamos em mente que criança não namora, adolescente namora adolescente, e adulto namora adulto. O relacionamento afetivo entre adulto e criança ou adolescente sempre será abusivo, mesmo que ainda não seja ilegal um adulto se relacionar com uma adolescente, sempre será imoral.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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