Bebel Soares
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PADECENDO

Violência contra a mulher, até quando?

Esses comportamentos costumam ser naturalizados, justifica-se por ele ser homem, e por ser jovem. Precisamos rever esses conceitos machistas

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Minha semana começou com mais uma notícia de feminicídio. Uma moça lá de Guaxupé, no Sul de Minas, havia sido morta pelo marido. Eles se relacionavam há três anos e estavam casados há dois meses. Dário José de Almeida Júnior tinha uma arma em casa. Armas têm uma única função: matar. Além da arma, ele tinha 40 munições intactas, cinco deflagradas e três carregadores. Mas esse não foi o único crime que Dário cometeu naquele dia.

Naquele sábado, ele fez a sobrinha da esposa, uma menina de 8 anos, refém por 10 horas. Ele pediu resgate e chegou a trocar tiros com a polícia, foi preso em flagrante e teve a prisão convertida para preventiva devido a toda a violência.
Segundo a Polícia Civil, a prisão foi ratificada pelos crimes de feminicídio, tentativa de homicídio qualificado, estupro de vulnerável e extorsão mediante sequestro. Segundo o BO, às 7h15 da manhã de sábado, Dário ligou para uma testemunha por chamada de vídeo, contou que havia matado a esposa e que estava de posse da sobrinha, declarando que pretendia matar a menina.
O caso todo é horrendo e sabemos que não é um caso isolado. Já é comprovado que o lugar menos seguro para mulheres e crianças é dentro de casa. A cada 10 casos de feminicídio, sete acontecem dentro de casa. Em relação à violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo dados do Ministério da Saúde, 84% das vítimas são mulheres e 71% dos casos ocorrem dentro da própria casa da vítima.

Dário hoje tem 28 anos e, segundo apuraram, ele tem um passado com vários episódios de violência. Aos 15 anos, foi apreendido após agredir a madrasta verbalmente, jogar objetos e ameaçá-la com uma faca. Aos 18 e aos 20 anos ele chegou a ser preso uma vez por estar embriagado, ao causar desordem em um pronto-atendimento, chegando a se machucar ao quebrar uma janela com a mão. 
Outra vez por, também embriagado, se envolver em um acidente enquanto pilotava, sem habilitação, uma moto. Esses comportamentos costumam ser naturalizados, justifica-se por ele ser homem, e por ser jovem. Precisamos rever esses conceitos machistas.

Existe uma sutileza nesse caso que não vi ninguém mencionando, por isso queria chamar atenção para o fato de o casal, Dario e Anelise, terem um perfil conjunto no Instagram - @dario_anelise. À primeira vista, perfis conjuntos podem parecer românticos, casal em sintonia, mas o que eles realmente revelam é que existe um controle na relação. Perfil em mídia social e gratuito; não tem motivo para economizar fazendo um perfil para o casal. O Instagram ainda permite posts colaborativos que aparecem em vários perfis. Um perfil de casal revela algum tipo de abuso disfarçado de romance.
 
Desconheço a relação entre Dário e Anelise, não sei se ele foi violento com ela em outras circunstâncias, além do fatídico dia em que ele a matou, friamente, com um tiro na cabeça, e não estou falando especificamente desse casal e, sim, de qualquer casal que tenha perfil conjunto. Sim, este é um sinal de que o amor pode não ser tão lindo quanto aparenta. Existem vários tipos de abuso e esse é um deles, muito sutil, mas revela a necessidade de controle do outro. Você tem um relacionamento, mas ambos têm direito à individualidade, pois ainda são duas pessoas. Querer acessar suas redes sociais ou ter um perfil único do casal é sinal de alerta para relacionamento abusivo.

Ninguém poderia imaginar que Anelise seria morta pelo marido, mas foi. Infelizmente, ela se foi. Nenhuma punição que o assassino possa receber vai conseguir apagar o mal que ele fez a tantas pessoas que confiaram nele. Sinto muito por tudo o que a família tem passado, pela perda de uma filha, mãe, irmã, tia. Pelo horror de ter alguém da confiança de todos cometendo tais atrocidades. Que todos tenham suporte emocional para lidar com o trauma.
 
Para nós, que ficamos e estamos exaustas dessa luta diária para acabar, ou pelo menos reduzir, a violência contra a mulher, desejo força. E espero que os homens se tornem aliados nessa luta, tornando-se conscientes do lugar privilegiado que ocupam.

“Não se pode, com facilidade, inserir as mulheres numa estrutura que já está codificada como masculina; é preciso mudar a estrutura” - Mary Beard

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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