Anna Marina
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ANNA MARINA

Preconceito é atraso de vida

Antigamente, espaços eram negados a artistas de BH. A negativa era uma só: não vamos ceder nosso palco a essa turma de gays

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Na idade em que estou, quando a vida deixa tudo definido e bem claro, tenho a certeza de não ter preconceito em relação a gênero. Amizade não admite farsas, duas caras, dois julgamentos. Ou você é ou não é amigo. E para isso deve respeitar o outro integralmente.

Quando era menina, fiquei muito amiga de um rapaz que morava em minha rua. A família reclamava, porque ele era gay. Ficamos tão próximos que acabou ficando amigo de toda a minha família. Certa época, fazíamos bandeirinha para o vizinho levar a comícios, ele era da esquerda. Muito prestativo e muito reconhecido, gente de casa – nós o recebíamos na cozinha.

Preconceito sempre foi um grande atraso de vida, em todas as áreas. Ontem, ao ler aqui no jornal que o Grupo Corpo está completando 50 anos, lembrei-me da discriminação sem propósito sofrida no passado por artistas em BH.

Vi o primeiro espetáculo do Corpo em uma garagem na Serra, levada por amigo que sabia tudo o que acontecia. Em plenos anos 1970, a cidade estava começando a “aceitar” as criações daqui.

Tempos antes disso, a primeira restrição era conseguir um palco. A negativa era uma só: não vamos ceder nosso palco a essa turma de gays, isso não deve ir longe.

A saída era sempre encontrar um espaço grande, o que obrigava a dimensionar o espetáculo ao local disponível.

Este problema, que mostrava a pequenez dos donos de palcos da capital, foi vivido por “O caso do vestido”, balé baseado no poema de Carlos Drummond. Criado por meu primo Klauss Vianna na década de 1950, o espetáculo começou numa garagem – por causa do preconceito –, mas conquistou tanta gente que depois foi parar no Teatro Francisco Nunes.

Foi montagem histórica, considerada a primeira obra de dança moderna em Belo Horizonte, com a bailarina Angel Vianna, mulher de Klauss, no elenco. Não havia música, os movimentos eram guiados pelo ritmo do poema, falado pelo coro.

Eu, por minha vez, fui parar no Rio para conseguir do poeta a licença para colocar sua poesia no palco. Recebida com o máximo de gentileza, tive de contar a ele tudo o que havia em cena. Gostou, prometeu vir ver o espetáculo, mas nunca apareceu.

Certo é que boa parte dos espetáculos da cidade começavam em garagens. Conheci o Grupo Corpo levada por meu saudoso amigo José Maurício.

Para provar que ele era meu amigo mesmo, tenho um pé de rosas amarelas em casa. Acontece que José Maurício morava nos fundos da igreja da Boa Viagem. Quando viu o jardim de lá arrancado para ser substituído por grama, trouxe para mim a bela muda daquela flor, que cultivo até hoje.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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