Anna Marina
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MEMÓRIAS

O penico de Murilo Rubião

Colunista relembra sua longa amizade com o escritor mineiro, iniciada quando ela tinha 20 anos

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A revista Veja desta semana trouxe matéria com o escritor Ian Fraser em que ele cita, entre os autores que o influenciaram, o meu amigo Murilo Rubião. Bastou essa referência para me lembrar de Murilo, que estava sumido na esteira do tempo. Era uma pessoa de muito valor e muito peso. Eu tinha pouco mais de 20 anos e fiquei encantada com sua amizade.

Contar com ele no meu elenco de conhecidos servia para aumentar minha fama. Nossa grande amizade causava inveja em moças mais velhas, que gostariam de namorar com ele. Só que Murilo gostava, mesmo, é de ser amigo da gente.

Nós nos víamos na Confeitaria Elite, no Centro da cidade. Ficava na Rua da Bahia, ponto de encontro de toda a sociedade nas tardes de sábado e domingo. De lá, vez em quando, íamos ao restaurante que funcionava ao lado da entrada principal do Automóvel Clube, cujo chef alemão fazia uma comida do outro mundo. E rara em Belo Horizonte, pois só ele preparava pratos alemães naquela época.

Gostava de ser amiga de Murilo, passávamos horas conversando não sei bem o quê, porque eu era muito nova e ele bem mais velho. Quando JK foi presidente, mandou-o servir na Espanha, como agente cultural de nossa embaixada. Ele ficou lá algum tempo, sempre me mandava cartas convidando para passear em Madri. Pena que não pude aproveitar o convite, naquela época mulher não viajava sozinha.

Murilo sempre foi muito comunicativo – e tinha tempo, porque suas cartas chegavam todas as semanas, contando o que fazia na Espanha.

O tempo foi passando, nossa amizade continuava numa boa, e fiquei conhecendo Freddy Chateaubriand, que me convidou para escrever uma coluna no Diário da Tarde.

Fui fazendo meu caminho, colecionando amigos, leitores e correspondentes, que me mandavam notícias sem parar. O editor do DT, sabendo dessa amizade com Murilo, pediu que fizesse uma reportagem com ele, que se negava a dar entrevistas a jornalistas.

Consegui marcar uma hora em sua casa, único lugar onde ele atendia. Fui até lá, ele morava na Serra. Não estava, tinha saído, mas eu poderia esperar. Quem me recebeu foi sua irmã, que correu comigo a casa até chegarmos ao quarto do Murilo. Foi nesta visita que meu encantamento diminuiu, quase acabou. Vi, debaixo de sua cama, o penico que ele usava à noite.

Não há amizade e encantamento que resistam a um penico debaixo da cama...


As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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