
O valor da amizade
Por temperamento, tenho dificuldade em fazer amigos. Mas os poucos que tenho são tão confiáveis como se fossem do meu próprio sangue
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Ontem, contei aqui meu programa do último domingo, um almoço na casa da minha prima Beata, em Santa Luzia. A reunião que rodou o dia, com pessoas chegando o tempo inteiro, mostrou uma tradição que anda em plena baixa nas famílias atuais: os laços de parentesco.
Os Teixeira da Costa, meu lado materno, incentivam que todos se conheçam, se frequentem, mantenham as tradições. Os “primos” podem ser de primeiro grau ou de até não sei quantas gerações posteriores. Como nossos parentes rodam o mundo, encontramos primos por tudo quanto é lado. Vez por outra, fico conhecendo um parente do qual nunca ouvi falar.
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Este é, para mim, um dos males da vida moderna: as famílias se perdem nas distâncias, nos países novos, em locais onde nunca iremos. Tenho primos no Canadá, na Islândia e em países variados. Apesar da distância, sempre há notícias uns dos outros, como nascimentos, casamentos, mortes, separações e mudanças.
Os meios modernos de comunicação facilitam esse entrosamento. Recentemente, recebi fotos do casamento de uma sobrinha-neta no Canadá. Estranho cada vez que encontro uma pessoa que não conhece os parentes e diz: “Ah, são meus primos, mas não sei nem os nomes”. Fico bem espantada, porque acredito que o conhecimento e o entrosamento familiar dão consistência ao mundo atual.
Vivemos no tempo do “cada um por si”, um dos males da sociedade contemporânea. A vida moderna leva à indiferença com o próximo, longe vai o tempo em que sentíamos a morte de uma pessoa que só conhecíamos socialmente.
No fundo, acredito que essa indiferença é defesa contra o sofrimento. Quanto menos nos aproximamos de uma pessoa – parente ou apenas conhecida –, menos sofremos com seus problemas.
Por temperamento, tenho dificuldade em fazer amigos. Mas os poucos que tenho são tão confiáveis como se fossem do meu próprio sangue. Sei que posso contar com eles para qualquer dificuldade.
Venho presenciando pessoas que escondem as doenças que sofrem, com se isso fosse segredo de família. Prefiro espalhar aos sete ventos minhas doenças, porque acho que as pessoas que ficam sabendo delas carregam sua preocupação sem dor. E também podem se prevenir.
Desde que escrevo esta coluna, coloco nela tudo o que sofro e com que me alegro. Falei tanto aqui de meus vários cânceres que me tornei uma espécie de referência para outros doentes. Quando trabalhava dentro da redação deste jornal, recebia consultas de colegas que me consideravam fonte segura no assunto. Gostava de atender a todos.
Viver com confiança na vida é um bom caminho para ser feliz, não devemos sofrer antecipadamente por problemas que são reais ou que criamos.
Na idade em que estou – pensei que não chegaria ela, porque fui dopada por vários meses por uma acompanhante, quase cheguei a morrer –, acredito na vida e em tudo o que ela nos oferece: realidade e sonhos.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.