Anna Marina
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O MUNDO DE LUTO

Tristeza na despedida

A praça de Roma fica repleta de pessoas que sabem que só sua presença vai valer, elas participam ali como prestadoras de homenagem ao papa se foi

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Semana de mortes, aflição, agonia e tristeza. Figuras conhecidas como o papa levam sofredores a verter lágrimas sem conta, é a última homenagem que se presta ao morto. A praça de Roma fica repleta de pessoas que sabem que só sua presença vai valer, elas participam ali como prestadoras de homenagem a quem se foi.

Não são poucos os que aproveitam o momento, ou a emoção, para derramar lágrimas que lavam a alma – e maior explicação eles não precisam dar.

Cadeirante como estou, não levo meu desconforto para desviar o interesse dos presentes pelo caixão. Afinal de contas, posso responder a perguntas sobre como fui parar ali. Morto no caixão não tem resposta para a vida. O silêncio é a melhor resposta de quem já se foi.

Em “O evangelho segundo o filho”, de Norman Mailer, Jesus Cristo fala de sua morte:

“Muitas histórias me foram contadas nem tão distantes assim dos fatos que conheci. Ressuscitei no terceiro dia. Mas meus apóstolos acrescentaram fábulas a seus relatos. Quando um homem vê um prodígio, Satanás acrescenta seu fermento, aumentando suas proporções.”

Não é isso o que acontece nos velórios, onde as virtudes do morto passam de conversa em conversa?

Mais adiante, Mailer continua: “É verdade que na tarde de minha morte um dos meus discípulos, um homem muito rico chamado José de Arimateia, procurou Pôncio Pilatos em segredo e pediu-lhe permissão para levar meu corpo. Em troca de uma boa soma, o governador de Jerusalém concordou. Ajudado por um tal de Nicodemus, esse homem me lavou com a mistura de mirra e babosa e me vestiu roupas novas, envolvendo-me num sudário de linho perfumado, tal como nós, judeus, enterramos os mortos. Perto de onde eu tinha sido crucificado havia um jardim, e nele um sepulcro, recém-aberto na rocha. José de Arimateia preparara aquele lugar para si mesmo, mas na sua generosidade me pôs lá. Fui colocado, portanto, na tumba de um homem rico. Depois de rolarem uma pedra grande para vedar a porta, eles foram embora.”

Assim acontecia no tempo de Jesus vivo. Atualmente, textos antecipados pelos mortos indicam, com todo o cuidado, a localização de suas tumbas. E são obedecidos, como ocorre com o papa Francisco, que quis ser enterrado não no Vaticano, como é tradição, mas na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, onde gostava de rezar. Também deixou de lado a riqueza das vestes sacerdotais para usar apenas a roupagem de tradição.

Francisco deixou, no testamento, toda a força de sua fé na pobreza e na condição de que a morte não é o esquecimento, nem lava tudo.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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