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Anna Marina
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ANNA MARINA

Algumas histórias do centenário Automóvel Clube de BH, o "Mais Britânico"

"Amigados", casais que buscavam frequentar o clube sem se casar, não entravam. Mulher sozinha, nem pensar; homem sem paletó não passava do porteiro

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Quando eu estudava no Instituto de Educação, descia pela Avenida Afonso Pena para pegar o bonde para o Santo Antônio naquele abrigo ótimo, principalmente em dias de chuva. Passava pela porta do Automóvel Clube e tinha a maior curiosidade em saber o que acontecia lá dentro, principalmente quando as floras mandavam entregar arranjos para festas.

 


Fiquei sabendo de tudo quando comecei a namorar um “superman”, que tinha a única mesa redonda da boate batizada com nome europeu, Príncipe de Gales, homenagem ao britânico Edward e a seu irmão, o futuro rei George VI da Inglaterra, recepcionados em BH.

 


Algum tempo depois, frequentei o clube com regularidade para refeições deliciosas com amigos e danças noite adentro, ao som do conjunto de Delé. O Automóvel Clube era também conhecido como o “Mais Britânico” pelas leis que aplicava em seus sócios. “Amigados”, como eram conhecidos os casais que buscavam frequentar o clube sem se casar, nem pensar. Disso surgiram vários casamentos, que vingaram ou não. E muitos tiveram o dissabor de serem barrados na porta.

 


Outras leis eram aplicadas em quem quer que fosse: mulher sozinha, nem pensar; homem sem paletó não passava do porteiro. E por aí vai. Na pequenês da época que a cidade admirava, louvava e deixava não sócios doidos para se filiarem (comissão julgava as propostas, poucos eram aprovados), não valia ser muito rico ou cercado por rara aura social.

 


Os bailes de réveillon e o aniversário do AC eram as duas festas mais sonhadas da cidade. E só família com muito dinheiro dava lá as festas de casamento dos filhos.

 


O movimento cresceu, o Salão Dourado (este era o nome; acreditem ou não, continua a ser) pode ser ligado à boate Príncipe de Gales ao lado, que também tinha suas leis. Vestidos “tomara que caia” nem pensar; pantalonas e blusas, por mais douradas e bordadas que fossem, não eram consideradas toalete; short, só no carnaval, assim mesmo discretamente.

 


Dentro de tanta formalidade, foi criado o título para a princesa do local, escolhida por comissão em uma casa na Pampulha. Ganhava o quê? Nome e uma foto no jornal, naquela época sob comando de Wilson Frade.

 


O “Mais Britânico” está fazendo 100 anos com várias comemorações. A primeira delas, realizada na quarta-feira passada (5/2), envolveu a placa alusiva ao centenário, que será entronizada na portaria do clube. Outra, bem simpática, serão os pequenos concertos nas sacadas do Salão Dourado, de onde vi um sócio cair depois de longa cheirada de lança-perfume. Copiam as vesperatas de Diamantina, mas ainda esperam patrocínio. Imaginem vocês como é a realidade: clube tão rico não ter uma graninha para pagar músico.

 


Por falar em grana, uma boa distração era sentar na portaria do AC e assistir à chegada dos frequentadores do “terceiro ou quarto andar”. A “sorte rolava” dia e noite nas cartas ou outros jogos de azar. Não sei mais a quantas anda a distração, mas houve época em que se criou a hora de retirada, ninguém podia virar a noite no carteado. Mesmo quebrando a fome com o serviço do restaurante, que era muito bom.

 


A grande festa do centenário está marcada para 8 de novembro. Terá como atração extra um cantor que ainda não foi escolhido. 

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