Radioisótopos: a revolução no tratamento do câncer - parte 3
Os novos radiofármacos não agirão necessariamente sozinhos. Eles podem reforçar quimioterapias e imunoterapias mais convencionais
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A corrida para encontrar agentes de direcionamento precisos no tratamento do câncer está esquentando, e a Telix é uma das líderes. Seu anticorpo monoclonal tem como alvo o antígeno específico da membrana da próstata (PMSA), uma proteína regulada positivamente em células cancerígenas - o mesmo alvo que a Pluvicto usa para administrar Lu-177. Mas o nome é impróprio: o PMSA também é encontrado em células saudáveis da próstata e em outras partes do corpo, expondo-as a danos colaterais do isótopo.
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Cientistas da Telix modificaram o anticorpo para que ele ainda tenha como alvo o PMSA em células de câncer de próstata, mas evite a ligação aos glóbulos brancos e às células renais, que são especialmente vulneráveis a radiofármacos por filtrarem o sangue. Os testes clínicos da empresa indicam que o anticorpo modificado não apenas evita alvos indesejados, como também é eliminado do corpo 50% mais rapidamente, pelo fígado e trato gastrointestinal, vias menos suscetíveis a danos por radiação. Um ensaio clínico de fase 3 para câncer de próstata deve ser concluído em 2027.
Outras empresas também buscam melhores maneiras de se concentrar nas células de câncer de próstata. Pesquisadores da Philochem AG usaram recentemente códigos de barras baseados em DNA para rastrear uma biblioteca de 5,8 milhões de potenciais medicamentos de pequenas moléculas para identificar os melhores para transportar Lu-177 para a fosfatase ácida prostática (ACP3), uma enzima abundante em células de câncer de próstata, mas praticamente ausente em órgãos saudáveis. Três desses compostos, ligados ao Lu-177, foram altamente eficazes na redução de tumores em camundongos.
Agentes de direcionamento para cânceres em diversos outros órgãos também estão em desenvolvimento. Novos alvos estão evoluindo rapidamente. De acordo com dados recentes compilados por Jeff Jones, analista da indústria radiofarmacêutica da Oppenheimer, as empresas estão em processo de validação e desenvolvimento de radiofármacos para quase três dúzias de alvos diferentes, com mais de uma dúzia de compostos de direcionamento, já sendo testados quanto à segurança em ensaios clínicos de fase 1 em humanos.
Agentes de direcionamento precisos também podem ajudar os médicos a visualizar cânceres quando combinados com radioisótopos menos danosos, como gálio-68 e zircônio-89, que se iluminam em tomografias por emissão de pósitrons. Essas imagens podem acompanhar o progresso do tratamento, permitindo que os oncologistas ajustem seus planos de tratamento.
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Os desenvolvedores de radioisótopos têm uma terceira opção para aprimorar seus medicamentos: mexer nos conectores moleculares que ligam um composto de direcionamento ao seu radioisótopo até que o medicamento se aloje no tumor. O objetivo geralmente é acelerar a remoção de um medicamento do corpo, limitando os efeitos colaterais.
Pesquisadores da Universidade de Kyoto, por exemplo, foram pioneiros em peptídeos curtos que podem ligar um agente de direcionamento ao composto de ligação metálica — chamado quelante — frequentemente usado para reter o radioisótopo. Os peptídeos ligantes são projetados para serem vulneráveis às enzimas de corte de proteínas presentes em certas células renais. Essas enzimas liberam o radioisótopo e impedem que ele permaneça nos rins. Estudos em animais sugerem que a estratégia pode reduzir a exposição renal à radiação em até 75%.
Outra empresa, a Fusion Pharmaceuticals, criou um ligante projetado para ser degradado rapidamente pelos mecanismos normais de limpeza celular quando um medicamento específico não está ligado às células cancerígenas. De acordo com dados da empresa, o ligante não tem efeito na absorção do medicamento pelas células cancerígenas, mas quadruplica a taxa de excreção de radiação. A abordagem pode funcionar para muitos tipos de câncer, e vários radiofármacos específicos que utilizam o ligante estão agora em ensaios clínicos em estágio inicial.
Os novos radiofármacos não agirão necessariamente sozinhos. Eles podem reforçar quimioterapias e imunoterapias mais convencionais. A Telix, por exemplo, está no meio de um ensaio clínico de fase 3 que combina seu medicamento Lu-177, direcionado a anticorpos e direcionado ao PSMA, com medicamentos convencionais que bloqueiam os hormônios androgênicos que alimentam a proliferação do câncer de próstata.
Outros estudos associam radiofármacos a medicamentos que bloqueiam enzimas de reparo do DNA, para impedir que as células tumorais reparem os danos causados pela radiação e sobrevivam. Quatro ensaios clínicos em estágio inicial foram lançados recentemente para testar essa abordagem em pessoas com câncer de mama e outros tumores. Os medicamentos radioativos têm sido considerados agentes únicos.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
