André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
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Nutrigenômica: fato ou ficção? Parte 1

Uma pessoa pode prosperar com uma dieta rica em carboidratos, enquanto outra ganha peso devido a variações genéticas que afetam o metabolismo

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Em 2021, o mercado de nutrigenômica arrecadou US$ 150 milhões em receita anual nos Estados Unidos, de acordo com a Market Research Future. Com especialistas prevendo um crescimento de 15,7% entre 2023 e 2032, a projeção é de que o setor alcance US$ 660 milhões em receita anual até 2032.


O aumento contínuo da obesidade e de condições comuns, como doenças cardiovasculares, tornaram-se alguns dos principais impulsionadores do crescimento do setor, e diversas organizações seguiram o exemplo. Em junho de 2017, a empresa de testes de DNA domiciliar DNAFit e a especialista em hospitalidade Vita Mojo uniram forças para criar o cardápio de restaurante mais personalizado do mundo — um cardápio projetado exclusivamente para o DNA de cada cliente.


Em 2018, a 23andMe começou a colaborar com a GlaxoSmithKline para explorar maneiras de usar a genética para tratar problemas de saúde, ao mesmo tempo em que lançava investigações sobre os efeitos da genética em comunidades historicamente sub-representadas em pesquisas clínicas.


O mais surpreendente sobre a indústria da nutrigenômica é a quantidade de novas empresas de testes genéticos que surgem a cada dia. O principal objetivo desses testes reside em como cada indivíduo responde de forma única aos mesmos alimentos com base em sua composição genética.


Por exemplo, uma pessoa pode prosperar com uma dieta rica em carboidratos, enquanto outra ganha peso devido a variações genéticas que afetam o metabolismo. Também é notável como a dieta pode influenciar a expressão genética por meio da epigenética, mostrando que o que comemos não apenas alimenta nossos corpos, mas também pode moldar nossa biologia.


No entanto, a nutrigenômica ou a ciência da alimentação, baseada na predisposição genética de um indivíduo sobre como o corpo metaboliza e responde a vários nutrientes, tem se tornado um tópico cada vez mais debatido. O intuito é desvendar o conceito de "alimentação como medicamento" e se realmente os alimentos oferecem benefícios medicinais.


O crescente interesse público pela nutrigenômica e outras facetas da medicina integrativa provavelmente evoluíram em resposta à crescente desconfiança pública na indústria farmacêutica e no sistema de saúde dos Estados Unidos e mais recentemente no Brasil. As razões para o aumento da desconfiança pública incluem a percepção de que os fabricantes de produtos farmacêuticos são motivados pelo lucro ou gananciosos, e preocupações com marketing off-label, programas governamentais inflacionados e dados ocultos, de acordo com um estudo transversal de 2023 publicado no Journal of the American Medical Association. Enquanto isso, o mercado de nutracêuticos disparou de US$ 383 bilhões em 2016 para US$ 591,1 bilhões em 2024, com base em relatórios e análises recentes.


No entanto, o conceito de que nutrientes de alimentos, plantas e outros produtos naturais oferecem benefícios medicinais não é uma tendência recente. Em vez disso, remonta a milênios, à medicina chinesa antiga, aos princípios ayurvédicos e às dietas hipocrática e galênica.


Frequentemente considerado o pai da medicina moderna, até mesmo o antigo médico e filósofo grego Hipócrates se envolveu postumamente em controvérsias sobre medicamentos derivados de alimentos. Seu nome se tornou sinônimo de diversas variações dos ditados "Que teu remédio seja teu alimento" e de seu antecessor moderno, "Comida é remédio".


Apesar disso, pesquisadores ainda não encontraram nenhuma evidência na literatura de que ele tenha feito tal afirmação. De acordo com Diana Cardenas, médica e doutora, autora de um artigo de opinião de 2013, o conceito de alimentos servindo como remédios deu origem a vários equívocos sobre a correlação entre má alimentação e doenças.


Embora os alimentos definitivamente contribuam para a saúde e o bem-estar geral, Cardenas argumenta que Hipócrates nunca pretendeu que os alimentos servissem a um propósito prescritivo. A origem da citação e a associação de Hipócrates com ela permanecem um mistério. Além disso, como apontou um especialista, muitos benefícios medicinais potenciais que os alimentos oferecem são frequentemente mitigados pela natureza humana.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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