Uma dieta pobre ou a diabetes não controlada possam contribuir para um maior risco de cancro ao longo do tempo -  (crédito: Myriam Zilles/ Unsplash)

mais estudos precisam ser feitos usando estudos clínicos maiores ou modelos animais para investigar possíveis ligações entre fatores dietéticos, diabetes e outros distúrbios metabólicos

crédito: Myriam Zilles/ Unsplash

Um mecanismo até então desconhecido para inativar genes que suprimem a formação de tumores ajuda a explicar por que o risco de câncer está associado a uma dieta pouco saudável ou a condições metabólicas não controladas, como a diabetes.


Pesquisadores de Cingapura e do Reino Unido usaram modelos de camundongos, tecidos humanos e organoides mamários humanos cultivados em laboratório para descobrir que mudanças no metabolismo da glicose poderiam ajudar o câncer a crescer, desativando temporariamente um gene que nos protege de tumores chamado BRCA2. O estudo foi recentemente publicado na prestigiada revista científica “Cell”.

 

 


Essas descobertas aumentam nossa compreensão sobre o impacto da dieta e do controle de peso corporal na gestão dos riscos de câncer. Os investigadores desenharam esse estudo com o objetivo de compreender quais fatores elevam o risco em famílias suscetíveis ao câncer, mas acabaram por descobrir um mecanismo mais profundo que liga uma via essencial de consumo de energia ao desenvolvimento do mesmo.

 


A descoberta também desafia uma teoria há muito estabelecida sobre genes que protegem contra o câncer. O paradigma de “dois golpes” de Knudson, proposto pela primeira vez em 1971, afirma que ambas as cópias de um gene supressor de tumor devem ser permanentemente inativadas em nossas células antes que o câncer possa se iniciar.

 


Estudos recentes descobriram que uma mutação num dos dois genes BRCA2 de uma célula está implicada em vários tipos de câncer. Curiosamente, ratos e células humanas com essa mutação não mostram os sinais habituais de instabilidade genética observados em células com ambas as cópias do gene mutadas.

 


Em camundongos, ter apenas uma cópia do BRCA2 afetada não parece causar grandes problemas no desenvolvimento de órgãos ou no reparo do DNA na maioria dos tecidos. Mas as células com esta mutação parecem mais vulneráveis a estresse oxidativo, como a exposição a toxinas ambientais como o formaldeído ou o acetaldeído, que podem reduzir os seus níveis de proteína BRCA2, levando a problemas funcionais.

 

 


A forma como esses fatores ambientais aumentam o risco de câncer ainda não está muito claro, mas é vital compreender a ligação se o objetivo for tomar medidas preventivas que nos ajudem a permanecer saudáveis por mais tempo. A equipe examinou primeiro pessoas que herdaram uma cópia defeituosa do BRCA2. Eles descobriram que as células dessas pessoas eram mais sensíveis ao metilglioxal (MGO), produzido quando as células decompõem a glicose em energia no processo de glicólise.

 


A glicólise gera mais de 90% do MGO nas células, que um par de enzimas normalmente mantém em níveis mínimos. Caso não consigam acompanhar, níveis elevados de MGO podem levar à formação de compostos nocivos que danificam o DNA e as proteínas. Em condições como a diabetes, em que os níveis de MGO são aumentados devido ao elevado nível de açúcar no sangue, esses compostos nocivos contribuem para complicações da doença.

 


Globalmente, isso sugere que alterações no metabolismo da glicose podem perturbar a função do BRCA2 através do MGO, contribuindo para o desenvolvimento e progressão do câncer.


Como o MGO pode roubar temporariamente da proteína BRCA2 sua capacidade de reparar o DNA, faz sentido que uma dieta pobre ou a diabetes não controlada possam contribuir para um maior risco de cancro ao longo do tempo, mesmo em pessoas com duas cópias funcionais do gene BRCA2. Essa nova informação pode levar a estratégias para a prevenção do câncer ou sua detecção precoce.


O MGO pode ser facilmente detectado por um exame de sangue para HbA1C, que poderia ser usado como marcador laboratorial no dia a dia da prática clínica. Além disso, níveis elevados de metilglioxal geralmente podem ser controlados com medicamentos e uma boa dieta, criando caminhos para medidas proativas contra o início do câncer.


Esses resultados vêm de testes de laboratório e pequenas amostras de tecido humano. Os pesquisadores dizem que mais estudos precisam ser feitos usando estudos clínicos maiores ou modelos animais para investigar possíveis ligações entre fatores dietéticos, diabetes e outros distúrbios metabólicos.