Um novo endereço do poder em Minas
Em torno da cidade orbitam o clã Azevedo, a deputada Lohanna França (PV), a petista Gleide Andrade e o presidente do PL em Minas, Dep. federal Domingos Sávio
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO
Divinópolis virou o novo centro de gravidade da política mineira. Às vésperas de 2026, o município do Centro-Oeste mineiro concentra movimentos decisivos em três tabuleiros da eleição: governo, Câmara e Senado. Em torno da cidade orbitam o clã Azevedo, a deputada Lohanna França (PV), a petista Gleide Andrade e o presidente do PL em Minas, o deputado federal Domingos Sávio (PL). De lados opostos, todos com o mesmo objetivo: garantir que o poder continue passando pela cidade.
O primeiro passo veio do prefeito Gleidson Azevedo (Novo), que confirmou à coluna estudar disputar vaga na Câmara. “É um desejo do povo e eu venho estudando sobre isso. A decisão fica para o ano que vem”, disse. Ele garante que não deixará o Novo, mas admite “avaliar o cenário” caso a candidatura do irmão Cleitinho (Republicanos) ao governo colida com o partido.
- "Fidelidade acima de tudo": o novo lema bolsonarista em Minas
- "Se trouxermos Republicanos e PL, seria eleição de um turno", Mateus Simões
A fala evidencia a disputa no campo conservador. PSD, Republicanos e o PL travam hoje uma queda de braço pelo comando da direita em Minas. O PSD, do vice-governador Mateus Simões, tenta unir os partidos em uma frente ampla. Mas uma candidatura de Cleitinho inviabilizaria o projeto.
Nos bastidores, é consenso: um dos dois terá que ceder. Por enquanto, o senador segue à frente nas pesquisas internas, visto como o nome mais viável do campo.
Para aliados, Cleitinho “salvaria o governo de Minas pela direita”, evitando o retorno do PT. Mas a sua candidatura desarruma a engenharia do PSD e pressiona Zema, que tenta manter o Novo no centro da articulação. Nesse jogo, Gleidson virou peça-chave e também um problema.
Leia Mais
Em vídeo recente, elogiou o ministro Alexandre Silveira (PSD), aliado direto de Lula, a quem chamou de “melhor ministro do Brasil”. O gesto foi lido como sinal de autonomia e indicativo de que o clã Azevedo joga em campo próprio, mesmo dentro da direita.
Enquanto conservadores se testam, a esquerda vive outra disputa. Gleide Andrade, secretária nacional de Finanças do PT, tenta se viabilizar como candidata à Câmara, mas encontra resistência eleitoral. Em Divinópolis, o protagonismo progressista tem nome e já está consolidado: Lohanna França.
Foi a deputada estadual quem retomou o projeto do Hospital Regional, iniciado em 2010 e abandonado por sucessivos governos. Desde o movimento estudantil, acompanha a obra, fiscaliza os repasses e cobra prazos. Em 2022, conseguiu o compromisso direto do presidente Lula (PT) e, em 2023, do ministro Alexandre Padilha, garantindo a federalização e a entrega prevista para 2026.
A força política da deputada potencializou os ânimos no PT. O gesto mais visível foi a reunião que Gleide articulou entre o prefeito Gleidson e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), sobre o hospital sem convidar Lohanna, autora do projeto de doação do terreno. Nos bastidores, o movimento foi interpretado como tentativa de esvaziamento da parlamentar.
A coluna procurou dirigentes locais do PT, que acusam Gleide de “interferir nas candidaturas municipais” e tentar controlar alianças em cidades do Centro-Oeste para fortalecer seu nome em 2026. Também procurada, Lohanna falou sobre a própria candidatura, mas preferiu não comentar o episódio. Disse apenas que pretende disputar vaga na Câmara em um “projeto progressista voltado à educação, meio ambiente, cultura e à unidade nacional em torno do presidente Lula”.
Enquanto o campo progressista se divide, o PL tenta se reorganizar. Domingos Sávio, por décadas o principal nome da direita no Centro-Oeste, voltou a ganhar força nos bastidores e é hoje o nome mais provável do partido para o Senado. Recentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manifestou desejo de vê-lo candidato, destacando sua “experiência e lealdade”.
O deputado tem sido elogiado internamente por sua capacidade de articulação e pelo papel de ponte com os prefeitos da região, sobretudo na liberação de emendas. Em Divinópolis, interlocutores creditam a ele boa parte dos recursos federais que mantêm o diálogo entre Brasília e o município.
Fato é que, com tantas peças se movendo, Divinópolis virou o microcosmo da sucessão mineira. Se Lohanna, Gleide e Gleidson forem eleitos deputados, a cidade ocupará três cadeiras em Brasília. Se Cleitinho vencer o governo, o Centro-Oeste comandará o Palácio Tiradentes. E se Domingos Sávio chegar ao Senado, Divinópolis estará nas três instâncias do poder.
Todas as cartas
Gleide Andrade (PT) aposta todas as fichas na candidatura do vereador Pedro Rousseff. A secretária de Finanças do PT avalia que o desempenho do sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff nas urnas pode puxar votos suficientes para ampliar o espaço do partido na Câmara dos Deputados em 2026. Como já mostrou a coluna, o jovem vem usando os fins de semana para fazer viagens de agenda no interior de Minas.
Na ponta
A coluna apurou que o deputado Domingos Sávio (PL) é hoje o nome mais certo ao Senado nas articulações da direita mineira. Caso o cabeça de chapa ao governo seja Mateus Simões (PSD), o favorito para a segunda vaga é Marcelo Aro (PP); se for Cleitinho Azevedo (Republicanos), o indicado tende a ser Euclydes Pettersen (Republicanos).
Já com Nikolas Ferreira (PL) liderando a chapa, o partido poderia ocupar as duas vagas majoritárias. Mesmo assim, o PL tem sinalizado interesse em manter a frente ampla com PSD e Republicanos. Na disputa interna com Caporezzo, a tendência é que Sávio, presidente da sigla em Minas, leve vantagem e consolide seu nome nas negociações.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Na Câmara
O empresário Fabiano Cazeca (PRD) tomou posse nesta quinta-feira (30) na Câmara dos Deputados, no lugar de Pedro Aihara (PRD). Ele ficará no mandato por quatro meses, em movimento articulado pelo partido para fortalecer seu nome para as eleições de 2026 e dar visibilidade aos suplentes. Fred Costa, líder da bancada, já havia se licenciado pelo mesmo período para abrir espaço a Felipe Saliba.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
