Ana Mendonça
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EM MINAS

Salas vazias, tribunal cheio

A lógica de confrontar o sindicato historicamente combativo falhou. E o que era para ser contenção virou combustível. A greve se alastrou, chegou às ruas

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Nesta terça-feira (1°/7) a Avenida Afonso Pena amanheceu travada. Em Belo Horizonte, quando a principal via do Centro para, não é só trânsito: é sinal de que há tensão no ar. A cidade já aprendeu, desde os tempos das 'Diretas Já', que há movimentos que começam no asfalto antes de chegar às manchetes. Desta vez, foram os professores da rede municipal que ocuparam a porta da Prefeitura, em mais um ato da greve que já dura mais de duas semanas.


O que começou com adesão tímida se transformou num impasse real. A paralisação cresceu, alcançou quase cem escolas totalmente fechadas e provocou cenas que viralizaram nas redes, com marmitas prontas em refeitórios vazios, cozinheiras esperando alunos que não chegaram, servidores reunidos em assembleias e uma faixa com recado direto ao prefeito: “Damião, reajuste de 2,49% é sacana demais”. O bordão da TV virou crítica pública. E a crítica virou ocupação. Não só do espaço físico, mas do debate político.


Nos bastidores da prefeitura, a greve foi inicialmente tratada como pontual. A decisão de cortar o ponto dos grevistas e manter as escolas abertas para servir refeições, inclusive aos sábados, foi lida por aliados como um gesto de firmeza administrativa. Mas o efeito foi o oposto: a mobilização cresceu. E cresceu em silêncio, sem grandes atos, mas com adesão progressiva.


A lógica de confrontar o sindicato historicamente combativo falhou. E o que era para ser contenção virou combustível. A greve se alastrou, chegou às ruas e afetou o cotidiano das famílias, que, agora, precisam lidar com a suspensão de aulas.


A proposta apresentada pela Prefeitura inclui recomposição de 2,49%, pagamento de férias-prêmio até o fim do ano, nomeação de 376 profissionais e promessa de corrigir perdas inflacionárias entre 2017 e 2022.
Mas o Sind-Rede contesta e diz que os valores não recompõem sequer os impactos mais recentes. Segundo eles, o discurso de valorização não corresponde à realidade enfrentada pelas escolas. “A prefeitura trata a recomposição como se fosse uma gentileza, não uma obrigação”, afirma a presidente do sindicato, Vanessa Portugal.


O episódio revela uma dificuldade recorrente de governos em dialogar com trabalhadores da educação sem transformar a pauta em cabo de guerra. Não é novidade. Em 2004, o então prefeito Célio de Castro enfrentou greve prolongada. Em 2013, a ocupação da Câmara por professores antecipou o que seria o ano mais conflagrado da década. Agora, em 2025, o ciclo se repete com um novo prefeito, mas velhas estratégias.


Trata-se, também, do primeiro grande teste da gestão Álvaro Damião (União Brasil). Desde que assumiu, o prefeito precisou lidar com temas complexos, mas quase sempre externos ao seu escopo direto de ação, como a guerra em Israel. Agora, pela primeira vez, o problema nasce dentro de casa, uma greve em expansão e desgaste acumulado nas redes.


Por enquanto, a prefeitura evita confronto direto. A coluna tentou contato com o prefeito Álvaro Damião, mas não obteve resposta.


Interlocutores dizem que há disposição para negociar, mas responsabilizam o sindicato pelo prolongamento da paralisação. Uma audiência de conciliação está marcada para hoje, quarta-feira, no Tribunal de Justiça de Minas. Se houver avanço, o impasse pode ceder. Se não, o desgaste tende a se aprofundar.


Na capital mineira, onde tudo parece contido, a greve virou barulho. E quando a Afonso Pena para, Belo Horizonte entende, não é apenas trânsito. É o sintoma. Como escreveu Paulo Freire, “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

 


Pressão na Câmara

Durante sessão plenária desta terça-feira (1°/7), o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Juliano Lopes (Podemos), cobrou que a prefeitura reavalie o reajuste salarial proposto aos professores da rede municipal, em greve desde 6 de junho. “Sou professor. Dei aulas por 18 anos. Sei da importância da educação. Estive com o secretário da Fazenda. Chegou a hora de a gente rever isso. Quem sabe está na hora de a prefeitura apresentar uma proposta?”, afirmou. O vereador disse acreditar no diálogo e se comprometeu a intermediar a negociação.

 

 


PT e Psol também

Parlamentares do PT e do Psol, tradicionais defensores da pauta da educação, se posicionaram a favor de um novo gesto da prefeitura diante da greve dos professores. As bancadas criticaram o índice de reajuste proposto e destacaram que a insatisfação da categoria não pode ser ignorada pela gestão Damião, que ainda não apresentou alternativas para encerrar a paralisação.

 

 

Silêncio oriental

O governador Romeu Zema (Novo) já voltou da longa viagem à China e ao Japão, mas até agora nada de coletiva ou balanço oficial. Em vez de agenda pública com imprensa para prestar contas da longa viagem, o primeiro compromisso pós-voo foi um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em São Paulo. Fica a dúvida: quando Zema vai dividir com os mineiros os frutos, os custos e as promessas dessa jornada internacional?

 

 

Louvor FM

A rádio Maravilha FM, controlada pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em Minas Gerais, tem programação inteiramente dedicada a músicas religiosas. Até o momento, não há qualquer outro tipo de conteúdo publicado pela emissora, apenas louvores e canções exaltando Jesus Cristo, do início ao fim do dia.

 

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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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