Ursos-polares enfrentam ameaças no Ártico aquecido

Cientistas monitoram a saúde dos ursos-polares em Svalbard, revelando impactos do aquecimento global e da contaminação por substâncias químicas persistentes

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Apesar de sua aparência amigável, o urso-polar é um dos predadores mais ferozes do planeta. Coletar uma amostra de sangue para conhecer seu modo de vida e estado de saúde é uma atividade arriscada, que exige uma organização minuciosa.

Primeiro, é preciso encontrá-lo e, em seguida, atirar-lhe um dardo sedativo de um helicóptero, antes que um veterinário se atreva a aproximar-se para lhe colocar uma coleira com GPS. Depois, recolhe-se a amostra de sangue e gordura antes que ele acorde.

Tudo isso sob um vento gelado de até 30°C negativos, numa plataforma de gelo do Ártico.

Nas últimas quatro décadas, especialistas do Instituto Polar Norueguês (IPN) monitoraram a saúde e o movimento dos ursos-polares no arquipélago de Svalbard, localizado entre a Noruega e o Polo Norte.

Como no restante do Ártico, o aquecimento global ocorre três a quatro vezes mais rápido do que em outros lugares.

Mas, neste ano, os oito cientistas que trabalham no quebra-gelo norueguês Kronprins Haakong estão experimentando novos métodos para monitorar o maior carnívoro terrestre, incluindo, pela primeira vez, o rastreamento dos “químicos eternos” PFAS, que vêm de outras partes do mundo e acabam em seus corpos. Um fotógrafo da AFP os acompanhou na reveladora expedição deste ano.

'Ó monitor cardiáco nos permite registrar a temperatura corporal do urso e sua frequência cardíaca durante todo o ano’’ - Marie-Anne Blanchet, Pesquisadora
"Ó monitor cardiáco nos permite registrar a temperatura corporal do urso e sua frequência cardíaca durante todo o ano’’ - Marie-Anne Blanchet, Pesquisadora Olivier MORIN / AFP


Cirurgia no gelo

O veterinário Rolf Arne Olberg coloca o rifle no ombro quando um urso-polar começa a se aproximar do helicóptero.


O dardo o derruba suavemente, e Olberg o observa com seus binóculos para se certificar de que atingiu um músculo. Caso contrário, o urso poderia acordar prematuramente. Após uma espera de cinco a dez minutos, para ter certeza de que ele está dormindo, o grupo de cientistas pousa e trabalha com rapidez e precisão.

Eles colocam uma coleira com GPS no urso ou substituem a bateria, se o animal já tiver uma. Na verdade, apenas as fêmeas são rastreadas com coleiras GPS, porque os ursos-polares machos têm o pescoço mais grosso que a cabeça e podem sacudir até remover o dispositivo.

Olberg faz uma incisão precisa na pele do urso para inserir um monitor cardíaco. “Isso nos permite registrar a temperatura corporal do urso e sua frequência cardíaca durante todo o ano”, explica a pesquisadora Marie-Anne Blanchet à AFP. O objetivo é “ver a energia que as fêmeas (com GPS) usam diante da mudança em seu ambiente”.

Os primeiros cinco foram colocados no ano passado, o que significa que, pela primeira vez, os especialistas poderão cruzar seus dados para determinar quando e quanto os ursos caminham e nadam para chegar aos seus locais de caça – e quanto tempo descansam em suas tocas. O veterinário também coleta uma amostra de gordura, que permite aos pesquisadores testar como o animal pode resistir ao estresse e aos “químicos eternos”, os principais contaminantes encontrados em seus corpos.

“A ideia é representar da melhor maneira possível o que os ursos experimentam na natureza, mas em um laboratório”, afirma a toxicologista belga Laura Pirard.

análise de dados cardíacos de ursa-polar a bordo do Kronprins Haakon
análise de dados cardíacos de ursa-polar a bordo do Kronprins Haakon Olivier MORIN/AFP


Calor ameaça Alpes Suíços

As geleiras dos Alpes suíços atingiram precocemente o chamado "Dia da Perda da Geleira", informou o serviço de monitoramento Glamos. Esse marco climático, normalmente esperado para agosto, indica que toda a neve e o gelo acumulados durante o inverno já derreteram. A partir de agora, qualquer derretimento adicional até outubro representará uma redução direta e irreversível nas massas de gelo.Segundo Matthias Huss, chefe do Glamos, esse momento deve ser encarado como um forte sinal de alerta: “É como se as geleiras estivessem dizendo: ‘Estamos desaparecendo, ajude-nos’.” Para uma geleira saudável, esse dia só deveria ocorrer no final de setembro, em outubro ou, idealmente, nunca.O fenômeno foi impulsionado por uma combinação perigosa de menor precipitação de neve e um mês de junho que foi o segundo mais quente já registrado na Suíça. A última vez que esse marco foi atingido tão cedo foi em 2022, ano considerado excepcional. Agora, os cientistas se preocupam com a repetição do padrão em tão pouco tempo, o que confirma o avanço acelerado das mudanças climáticas.

Caçador e vulnerável

• O urso-polar é altamente adaptado ao frio extremo, com uma espessa camada de gordura e pelagem dupla que o protege contra as temperaturas congelantes do Ártico.

• É um excelente nadador, capaz de atravessar longas distâncias em mar aberto com suas grandes patas dianteiras, que funcionam como remos.

• Sua alimentação é quase totalmente carnívora, focada em focas, que fornecem a energia necessária para sobreviver em ambientes gelados.

• Atualmente, é uma das espécies mais vulneráveis às mudanças climáticas, já que depende do gelo do mar para caçar e se locomover.

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