Brasileiros gostam de ciência, mas não entendem
Explicar com transparência e clareza as etapas do método científico pode ampliar a compreensão do tema pela sociedade
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Siga noA maioria dos brasileiros se interessa por ciência, mas não a compreende. A conclusão é possível ao se analisar os dados de uma pesquisa realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, em parceria com o Instituto Nacional para a Comunicação Pública da Ciência (INCT-CPCT). O estudo foi coordenado por Adriana Badaró e contou com entrevistas domiciliares e amostra representativa da população brasileira de 16 anos ou mais.
Percebe-se, portanto que os brasileiros não odeiam ciência, conforme texto publicado no blog Ciência Fundamental, da Folha de S.Paulo, por Yurij Castelfranchi, físico, professor do departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Amerek, Curso de Especialização em Comunicação Pública da Ciência da UFMG.
Cerca de 60% da população declara ter interesse pela ciência - mais do que os 54% que se interessam por esportes, por exemplo. Vale lembrar que o Brasil é conhecido como o país do futebol.
No entanto, é importante olhar a outra fatia desse bolo. As demais pessoas estariam desconfiadas da ciência? A divulgação científica, portanto, precisa se debruçar sobre essa questão.
Uma forma de se ligar holofotes sobre a ciência é deixando mais transparente como funciona o fluxo do método científico, nem sempre explicado à sociedade como um todo, e não raro somente compreensível ao restrito mundo acadêmico.
Isso ajudaria a evitar equívocos espalhados por admiradores de pseudociência, como a desinformação espalhada no passado recente de que hidroxicloroquina cura Covid-19, algo amplamente desmentido por estudos ao redor do mundo.
Nesse sentido, é fundamental reforçar que ciência, segundo o dicionário Oxford, é a atividade intelectual e prática que abrange o estudo sistemático da estrutura e comportamento do mundo físico e natural através de observação e experimentação.
Também é oportuno detalhar o conceito de pseudociência. Trata-se de conjunto de crenças ou afirmações sobre o mundo ou a realidade que se considera equivocadamente como tendo base ou estatuto científico – conjunto de teorias, métodos e afirmações com aparência científica, mas que partem de premissas falsas e/ou que não usam métodos rigorosos de pesquisa. Elas geram, basicamente, desinformação.
O conhecimento científico, portanto, é algo essencial para o desenvolvimento da sociedade.
As etapas do método científico
Para a eficácia do método científico ser garantida, esse processo é constituído de algumas etapas. Primeiramente, o início dá-se com a observação de algum um fato. “Algo que não dá para questionar, como uma maçã caiu, as plantas murcharam”, conforme ilustrado no canal de YouTube Biologia com Samuel Cunha.
A partir desse fato inicial, o próximo passo é elaborar uma pergunta ou questionamento. No exemplo das plantas, a questão pode ser: por que as plantas murcharam?
A hipótese vem na sequência. Essa etapa não se configura como uma verdade, e sim como algo que precisa ser testado. “É a explicação para um fato. As plantas murcharam por falta de água”, continua Samuel.
No método científico, toda hipótese precisa ser criteriosamente comprovada. Sendo assim, chegamos à etapa do experimento, que é quando a hipótese vai ser testada. Caso a situação de declínio da planta tenha sido causada por falta de água, é necessário dar água para a planta.
Chega-se, portanto, ao resultado, que configura-se como a análise do experimento. A parte final da comprovação científica é formada pela conclusão: a hipótese é válida ou não?
É importante que a sociedade compreenda o fluxo acima descrito para que o Brasil avance na assimilação da importância da ciência. Ainda conforme a pesquisa do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o conhecimento de noções ou instituições científicas entre os brasileiros é muito baixo. Cerca de 80% dos entrevistados não conseguem citar nenhuma instituição que faz pesquisa. Mais de 70% acreditam que antibiótico "serve para matar vírus".
Vinte e sete por cento dos brasileiros dizem que compartilharam desinformação, sem querer. Consultados, 9% dos entrevistados disseram que compartilharam mesmo suspeitando que a informação pudesse estar errada. Sobre vacinas, 26% acreditam que "algumas vacinas podem causar autismo". “São milhões de pessoas vítimas da desinformação orquestradas nas redes”, finaliza o coordenador do Amerek.
Esse artigo integra o projeto final da disciplina Teoria da Ciência, do curso de Ciências Socioambientais da UFMG. Grupo composto pelos alunos Ketlen Marcela Cirilo dos Santos, Leandro Pereira da Rocha e Rafael de Andrade Rocha